sábado, 11 de dezembro de 2010

Um espaço informal para o debate em torno da pesquisa Nietzsche

Um dos objetivos do Grupo Nietzsche da UFMG para 2011 é investir na dinamização deste Blog, que até o momento tem funcionado como a maior parte dos blogs acadêmicos, ou seja, como um espaço para o compartilhamento de informações acerca de eventos relativos à pesquisa que nos concerne. Isso significa, no meu entendimento, que o blog tem sido subaproveitado em seu imenso potencial de espaço alternativo, informal, essencialmente ágil e dinâmico, que permite uma interação entre pesquisadores de diversas procedências e que pode vir a se constituir em uma arena para a confrontação agonística das diversas perspectivas em torno da obra de Nietzsche que cada pesquisador ou centro de pesquisa tende a desenvolver em relativo isolamento. A confrontação de perspectivas interpretativas ocorre tradicionalmente nos eventos acadêmicos (congressos, simpósios, colóquios, etc), no caso de estes serem bem-sucedidos. Mas por mais bem-sucedidos que tais eventos sejam, não há como driblar os constrangimentos de tempo, que são cada vez mais rigorosos e impõem limites consideráveis à interação entre os pesquisadores. Além disso, esta interlocução se dá na maior parte das vezes em uma etapa em que o pesquisador já tem suas convicções cristalizadas e as comunica na forma de um ensaio, ou seja, em uma etapa em que o processo da pesquisa propriamente dita, com tudo aquilo que é constitutivo desta etapa, ou seja, as indefinições, hesitações, reformulações e abertura para outras vozes, cede lugar ao ritual da prova. Como bons nietzscheanos, devemos nos lembrar da desconfiança que Nietzsche nutria pelo ritual da prova (que ele tendia a identificar com o gosto filosófico pela dialética): embora este seja um ritual constitutivo da forma de vida filosófica (pois é nele que se dá o esforço de justificação racional), é nele também que o filósofo está mais exposto à sedução da impostura e da teatralização. Creio que se bem explorado, o blog permite antecipar o momento da interlocução e incorporá-la de forma mais eficaz e definitiva às diversas etapas da pesquisa e da redação de nossos ensaios filosóficos, criando uma maior interação entre os pesquisadores e os centros de pesquisa. Mas o pressuposto para que isso ocorra é que cada pesquisador esteja disposto a expor seu trabalho em uma etapa em que ele ainda se configura como uma work in progress. Mas como leitores de Nietzsche já deveríamos ter cultivado em nós tal disposição, pois no fim das contas todos os nossos trabalhos são work in progress. O ponto é: em que medida nossos trabalhos podem, ou em que medida nós queremos que eles progridam em rede? Se a proposta de dinamização deste blog for levada a bom termo, então teremos aqui uma espécie de diário de bordo da pesquisa Nietzsche, escrito a muitas mãos. Nietzsche concebia a condição epistêmica do moderno homem do conhecimento a partir da metáfora da navegação, uma metáfora que ele explorou e variou indefinidamente e que teve ampla acolhida no século XX. O fato de não haver terra a vista e de estarmos condenados a reparar nossa embarcação em alto-mar é uma razão a mais para sermos obsessivamente meticulosos em nossos diários de bordo. Lancemo-nos ao novo infinito.
Questões práticas: Para que a coisa funcione em termos práticos, eu sugiro que os usuários do blog proponham temas em torno dos quais o debate pode se desenvolver. Estes temas podem ser suscitados por livros recém-lançados no mercado, ou pelo interesse de cada usuário, que fica então responsável por propor uma primeira abordagem para o mesmo. No primeiro caso, podemos pensar em uma modalidade de resenha coletiva de livros que tenham impacto na recepção contemporânea de Nietzsche, ou mesmo de artigos que julgarmos relevantes. No segundo caso, o pontapé inicial de uma discusão pode vir da primeira versão de um ensaio que esteja sendo redigida por um dos usuários (caso ele se anime a compartilhá-la com os demais usuários e colaboradores do blog). Enfim, podemos pensar em uma varieade de modelos. Sugiro que as contribuições sejam enviadas para a seção de comentarios, e sejam posterioamente incorporadas às postagens (se for o caso e o desejo do usuário) pelos três moderadores do blog: este que vos escreve, e os nossos caros Oscar e William, este úlitmo nosso enviado internacional, que no momento está às voltas com sua dissertação de mestrado na Alemanha.
Espero que todos se sintam motivados a participar. Em breve irei postar uma primeira versão de minha resenha do livro de Losurdo (Nietzsche, o rebelde aristocrata: biografia intelectual e balanço crítico, traduzido pela editora Revan em 2009). Creio que é um tema bastante polêmico e que pode funcionar como um bom laboratório para testar a nova ambição do blog, de funcionar como uma arena para a confrontação agonística de perspectivas interpretativas. Espero que ele não tenha o destino do famoso Pestana, o compositor de polcas eternizado por Machado de Assis no conto "Um homem célebre" (1888), cruelmente descrito como a "eterna peteca entre a ambição e a vocação".

3 comentários:

  1. Acho a idéia excelente! Na verdade, desde que o blog foi colocado no ar, pensava que este deveria ser um dos objetivos principais: criar aqui um espaço agonístico, um espaço de discussão. Espero que a coisa realmente funcione. De minha parte, ficaria feliz em poder postar vez ou outra algum tema, receber críticas e participar das discussões. O trabalho de pesquisa, dependendo do meio e da forma que é feito, pode ser por demais solitário. Acho que todos nós precisamos de um feedback de vez em quando...

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  2. Compartilho da opinião de Willian e, obviamente, do autor do post: também acredito na potencialidade do blog como 'arena agonística de discussões' dos pesquisadores Nietzsche. Creio que é um espaço em que tanto jovens pesquisadores quanto pesquisadores mais experientes possam dialogar para além das oportunidades concernentes à academia, como congressos, colóquios, etc. Espero, ansiosa, pela resenha do livro de Losurdo. Faço votos para que seja o pontapé inicial e provocador dos leitores e usuários do blog (o que também me inclui) em dinamiza-lo e torna-lo uma verdadeira rede interativa de discussões.

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  3. Obrigado Alexandra. Espero vê-la mais vezes por aqui. A resenha do Losurdo deve ficar para o início do semestre. A minha proposta é que inauguremos uma seção de resenhas coletivas. Estou aguardando sugestões.

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